ENSINO E APRENDIZAGEM INOVADORES
COM TECNOLOGIAS AUDIOVISUAIS E TELEMÁTICAS
José
Manuel Moran
Para onde estamos caminhando no ensino?
Todos estamos
experimentando que a sociedade está mudando nas suas formas de organizar-se, de
produzir bens, de comercializá-los, de divertir-se, de ensinar e de aprender.
Muitas formas de
ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito
pouco, desmotivamo-nos continuamente. Tanto professores como alunos temos a
clara sensação de que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. Mas para
onde mudar? Como ensinar e aprender em uma sociedade mais interconectada?
O campo da
educação está muito pressionado por mudanças, assim como acontece com as demais
organizações. Percebe-se que a educação é o caminho fundamental para
transformar a sociedade. Isso abre um mercado gigantesco que está atraindo
grandes grupos econômicos dispostos a ganhar dinheiro, a investir nesse novo
nicho e que importam os processos de reorganização e gestão trazidos das empresas.
Uma das áreas
prioritárias de investimento é a implantação de tecnologias telemáticas de alta
velocidade, para conectar alunos, professores e a administração. O objetivo é
ter cada classe conectada à Internet e cada aluno com um notebook. Começam a investir significativamente no
mercado ainda pouco explorado da educação a distância, da educação contínua,
principalmente dos cursos de curta duração.
Como em outras
épocas, há uma expectativa de que as novas tecnologias nos trarão soluções
rápidas para o ensino. Sem dúvida as tecnologias nos permitem ampliar o
conceito de aula, de espaço e tempo, de comunicação audiovisual, e estabelecer
pontes novas entre o presencial e o virtual, o estar juntos e o estarmos
conectados a distância. Mas se ensinar dependesse só de tecnologias já teríamos
achado as melhores soluções há muito tempo. Elas são importantes, mas não
resolvem as questões de fundo. Ensinar e aprender são os desafios maiores que
enfrentamos em todas as épocas e particularmente agora em que estamos
pressionados pela transição do modelo de gestão industrial para o da informação
e do conhecimento.
Os desafios de
ensinar e educar com qualidade
Há uma preocupação
com ensino de
qualidade mais do que com educação de qualidade. Ensino e educação são conceitos diferentes. No
ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar os alunos a
compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemática).
Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento
e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. Educar é ajudar a
integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual,
emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a
sociedade que temos.
Educar é colaborar
para que professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas
vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na
construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu
projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e
comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e
profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos.
Educamos de
verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos,
sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando
aprendemos em todos os espaços em que vivemos - na família, na escola, no
trabalho, no lazer etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real
e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e
técnica; razão e emoção.
Ensinar/educar é
participar de um processo, em parte, previsível - o que esperamos de cada
criança no fim de cada etapa - e, em parte, aleatório, imprevisível. A educação
fundamental é feita pela vida, pela reelaboração mental-emocional das
experiências pessoais, pela forma de viver, pelas atitudes básicas diante da
vida e de nós mesmos. A avaliação do ensino mostra-nos se aprendemos alguns
conteúdos e habilidades. Os resultados da educação aparecem a longo prazo.
Quanto mais avançamos em idade, mais claramente mostramos até onde aprendemos
de verdade, se evoluímos realmente, em que tipo de pessoas nos transformamos.
Ensinar é um
processo social (inserido em cada cultura, com suas normas, tradições e leis),
mas também é um processo profundamente pessoal: cada um de nós desenvolve um
estilo, seu caminho, dentro do que está previsto para a maioria. A sociedade
ensina. As instituições aprendem e ensinam. Os professores aprendem e ensinam.
Sua personalidade e sua competência ajudam mais ou menos. Ensinar depende
também de o aluno querer aprender e estar apto a aprender em determinado nível
(depende da maturidade, da motivação e da competência adquiridas).
Fala-se muito de
ensino de qualidade. Muitas escolas e universidades são colocadas no pedestal,
como modelos de qualidade. Na verdade, em geral, não temos ensino de qualidade. Temos alguns
cursos, faculdades universidades com áreas de relativa excelência. Mas o conjunto das instituições de ensino está
muito distante do conceito de qualidade.
O
ensino de qualidade envolve muitas variáveis:
· Uma organização inovadora, aberta, dinâmica,
com um projeto pedagógico coerente, aberto, participativo; com infra-estrutura
adequada, atualizada, confortável; tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas.
· Uma organização que congregue docentes bem
preparados intelectual, emocional, comunicacional e eticamente; bem
remunerados, motivados e com boas condições profissionais, e onde haja
circunstâncias favoráveis a uma relação efetiva com os alunos que facilite
conhecê-los, acompanhá-los, orientá-los.
· Uma organização que tenha alunos motivados,
preparados intelectual e emocionalmente, com capacidade de gerenciamento
pessoal e grupal.
O ensino de
qualidade é muito caro, por isso pode ser pago por poucos ou tem que ser
amplamente subsidiado e patrocinado.
Poderemos criar
algumas instituições de excelência. Mas a grande maioria demorará décadas para
evoluir até um padrão aceitável de excelência.
Temos, no geral,
um ensino muito mais problemático do que é divulgado. Mesmo as melhores
universidades são bastante desiguais nos seus cursos, metodologias, forma de
avaliar, projetos pedagógicos, infra-estrutura. Quando há uma área mais
avançada em alguns pontos esta é colocada como modelo, divulgada externamente
como se fosse o padrão de excelência de toda a universidade. Vende-se o todo
pela parte. O que muitas vezes é fruto de alguns grupos, lideranças de
pesquisa, aparece como se fosse generalizado a todos os setores da escola, o
que não é verdade. As instituições vendem externamente os seus sucessos -
muitas vezes de forma exagerada - e escondem os insucessos, os problemas, as
dificuldades.
Temos um ensino em
que predominam a fala massiva e massificante, um número excessivo de alunos por
sala, professores mal preparados, mal pagos, pouco motivados e evoluídos como
pessoas.
Temos muitos
alunos que ainda valorizam mais o diploma do que o aprender, que fazem o mínimo
(em geral) para ser aprovados, que esperam ser conduzidos passivamente e não
exploram todas as possibilidades que existem dentro e fora da instituição
escolar.
A infra-estrutura
costuma ser inadequada. Salas barulhentas, pouco material escolar avançado,
tecnologias pouco acessíveis à maioria.
O ensino está
voltado, em boa parte, para o lucro fácil, aproveitando a grande demanda
existente, com um discurso teórico (documentos) que não se confirma na prática.
Há um predomínio de metodologias pouco criativas; mais marketing do que real processo de mudança.
É importante procurar o
ensino de qualidade, mas consciente de que é um processo longo, caro e menos
lucrativo do que as instituições estão acostumadas.
Nosso desafio
maior é caminhar para um ensino e uma educação de qualidade, que integre todas
as dimensões do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que façam essa
integração em si mesmas no que concerne aos aspectos sensorial, intelectual,
emocional, ético e tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e
o social, que expressem nas suas palavras e ações que estão sempre evoluindo,
mudando, avançando.
As dificuldades
para mudar na educação
As mudanças
demorarão mais do que alguns pensam, porque nos encontramos em processos
desiguais de aprendizagem e evolução pessoal e social. Não temos muitas
instituições e pessoas que desenvolvam formas avançadas de compreensão e
integração, que possam servir como referência. Predomina a média - a ênfase no
intelectual, a separação entre a teoria e a prática.
Temos grandes dificuldades
no gerenciamento emocional, tanto no pessoal como no organizacional, o que
dificulta o aprendizado rápido. São poucos os modelos vivos de aprendizagem
integradora, que junta teoria e prática, que aproxima o pensar do viver.
A ética permanece
contraditória entre a teoria e a prática. Os meios de comunicação mostram com
freqüência como alguns governantes, empresários, políticos e outros grupos de
elite agem impunemente. Muitos adultos falam uma coisa - respeitar as leis - e
praticam outra, deixando confusos os alunos e levando-os a imitar mais tarde
esses modelos.
O autoritarismo da
maior parte das relações humanas interpessoais, grupais e organizacionais
espelha o estágio atrasado em que nos encontramos individual e coletivamente em
termos de desenvolvimento humano, de equilíbrio pessoal, de amadurecimento
social. E somente podemos educar para a autonomia, para a liberdade com
processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, que
respeitem as diferenças, que incentivem, que apoiem, orientados por pessoas e
organizações livres.
As mudanças na
educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual
e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar
e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque desse
contato saímos enriquecidos.
O educador
autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo, está
atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do
aprender, a nossa ignorância, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a
relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória
que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses.
Os grandes educadores
atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da
aula chamam a atenção. Há sempre algo
surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua
forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de descobertas.
Enquanto isso, boa
parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas,
sínteses. São docentes "papagaios", que repetem o que lêem e ouvem,
que se deixam levar pela última moda intelectual, sem questioná-la.
É
importante termos educadores/pais com um amadurecimento intelectual, emocional,
comunicacional e ético, que facilite todo o processo de organizar a
aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca
que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica,
capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação.
As mudanças na
educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores
mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo
pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores
inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano,
contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação.
As mudanças na educação dependem também dos
alunos. Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam
as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e
parceiros de caminhada do professor-educador.
Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam
mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias
abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que
desenvolvem ambientes culturalmente ricos,
aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais
produtivas.
A
construção do conhecimento na sociedade da informação
O conhecimento não
é fragmentado mas interdependente, interligado intersensorial. Conhecer
significa compreender todas as dimensões da realidade, captar e expressar essa
totalidade de forma cada vez mais ampla e integral. Conhecemos mais e melhor
conectando, juntando, relacionando, acessando o nosso objeto de todos os pontos
de vista, por todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica possível.
Pensar é aprender
a raciocinar, a organizar logicamente o discurso, submetendo-o a critérios,
como a busca de razões convincentes, inferências fundamentadas, organização de
explicações, descrições e argumentos coerentes. Ler, escrever, ouvir e calcular
são mega-habilidades incrivelmente complexas e sofisticadas. Desenvolver a
habilidade lingüística significa adquirir, ao mesmo tempo, a lógica e a sintaxe
que estão inseridas na linguagem. Quanto mais rico é o ambiente cultural
familiar, mais facilmente a criança consegue construir a lógica da narrativa,
organizar de forma mais rica a linguagem. O desenvolvimento de habilidades de
raciocínio é fundamental para a compreensão do mundo. Além do raciocínio a
emoção facilita ou complica o processo de conhecer (Lipman 1992, p. 47)
Processamos a
informação de várias formas, segundo o nosso objetivo e o nosso universo
cultural. A forma mais habitual é o processamento lógico-seqüencial, que se
expressa na linguagem falada e escrita, em que vamos construindo o sentido aos
poucos, em seqüência espacial ou temporal, dentro de um código relativamente
definido que é o da língua, com maior liberdade na fala e na escrita pessoal ou
coloquial. A construção se dá aos poucos, em seqüência concatenada. O contexto
oculta-se e revela-se na leitura progressiva. Tanto a escrita quanto a leitura
dependem das habilidades de fazer julgamentos, estabelecer comparações,
relações e de comunicá-los aos outros. Adquirir habilidade na linguagem
significa ter, ao mesmo tempo, adquirido a lógica e a sintaxe que estão
inseridas nessa linguagem.
Em outros momentos
processamos a informação de forma hipertextual, contando histórias, relatando
situações que se interconectam, ampliam-se, que nos levam a novos significados
importantes, inesperados e que terminam diluindo-se nas ramificações de
significados secundários. É a comunicação
"linkada", através de nós intertextuais. A leitura hipertextual é
feita como em "ondas", em que uma leva à outra, acrescentando novas
significações. A construção é lógica, coerente, sem seguir uma única trilha
previsível, seqüencial mas que vai se ramificando em diversas trilhas
possíveis.
Atualmente, cada
vez mais processamos também a informação de forma multimídica, juntando pedaços
de textos de várias linguagens superpostas simultaneamente, que compõem um
mosaico impressionista, na mesma tela, e que se conectam com outras telas
multimídia. A leitura é cada vez menos seqüencial. As conexões são tantas que o
mais importante é a visão ou leitura em flash,
no conjunto, uma leitura rápida, que cria significações provisórias, dando uma
interpretação rápida para o todo, e que vai se completando com as próximas
telas, através do fio condutor da narrativa subjetiva: dos interesses de cada
um, das suas formas de perceber, sentir e relacionar-se.
A construção do
conhecimento, a partir do processamento multimídico, é
mais "livre", menos rígida, com conexões mais abertas, que passam
pelo sensorial, pelo emocional e pela organização do racional; uma organização
provisória, que se modifica com facilidade, que cria convergências e
divergências instantâneas, que precisa de processamento múltiplo instantâneo e
de resposta imediata (Moran 1998, pp. 148-152).
Convivemos com
essas diferentes formas de processamento da informação. Dependendo da bagagem cultural, da idade e dos
objetivos pretendidos predominará o processamento seqüencial, o hipertextual
ou o multimídico. Se estivermos
concentrados em objetivos específicos muito determinados, predominará
provavelmente o processamento seqüencial. Se trabalharmos com pesquisa,
projetos de médio prazo, interessar-nos-á o processamento hipertextual, com
muitas conexões, divergências e convergências. Se temos de dar respostas
imediatas e situar-nos rapidamente, precisaremos do processamento multimídico.
Na sociedade
atual, em virtude da rapidez com que temos que enfrentar situações diferentes a
cada momento, cada vez utilizamos mais o processamento multimídico. Por sua
vez, os meios de comunicação, principalmente a televisão, utilizam a narrativa
com várias linguagens superpostas, que nos acostuma, desde pequenos, a
valorizar essa forma de lidar com a informação, atraente, rápida, sintética, o
que traz conseqüências para a capacidade de compreender temas mais abstratos de
longa duração e de menos envolvimento sensorial.
Há um tipo de
conhecimento que exige respostas rápidas, imediatas, que combinamos com outro
tipo mais reflexivo, demorado, analítico, por meio do qual precisamos de tempo
e concentração para compreender um assunto. Na maior parte das situações do
dia-a-dia utilizamos um tipo de conhecimento polivalente, de resposta rápida,
tipo “vapt-vupt”, um conhecimento que precisa responder a solicitações
imprevisíveis que exigem soluções imediatas. Por exemplo, respostas em debates,
a perguntas-relâmpagos numa entrevista, respostas a questões pelo telefone,
decisões numa reunião executiva de emergência. Na sociedade urbana esse tipo de
conhecimento "multimídico" - generalista e menos profundo é cada vez
mais importante e exige uma capacidade de adaptação e flexibilidade muito
grande. O ritmo alucinante da televisão, utilizando vários canais sensoriais e
linguagens simultaneamente, favorece esse tipo de conhecimento de assimilação
imediata.
Quanto mais
mergulhamos na sociedade da informação, mais rápidas são as demandas por
respostas instantâneas. As pessoas, principalmente as crianças e os jovens, não
apreciam a demora, querem resultados imediatos. Adoram as pesquisas síncronas,
as que acontecem em tempo real e que oferecem respostas quase instantâneas. Os
meios de comunicação, principalmente a televisão, vêm nos acostumando a receber
tudo mastigado, em curtas sínteses e com respostas fáceis. O acesso às redes
eletrônicas também estimula a busca on-line
da informação desejada. É uma situação nova no aprendizado. Todavia, a
avidez por propostas rápidas, muitas vezes, leva-nos a conclusões previsíveis,
a não aprofundar a significação dos resultados obtidos, a acumular mais
quantidade do que qualidade de informação, que não chega a transformar-se em conhecimento
efetivo.
A rapidez em lidar
com situações polivalentes, como as que enfrentamos na cidade grande, é uma
qualidade que nos ajuda a dar múltiplas respostas para as múltiplas situações
imprevisíveis que vamos enfrentando. Contudo, não podemos transferir essa
habilidade de lidar com o imediato para o conhecimento mais dirigido, para a
busca mais aprofundada, que precisa de tempo, de concentração, de criatividade
e de organização.
Em síntese, cada
vez são mais difundidas as formas de informação multimídica ou hipertextual e
menos a lógico-seqüencial. As crianças e os jovens estão totalmente
sintonizados com a multimídia e quando lidam com texto fazem-no mais facilmente
com o texto conectado através de links, de palavras-chave, o hipertexto.
Por isso o livro se torna uma opção inicial menos atraente; está competindo com
outras mais próximas da sensibilidade deles, das suas formas mais imediatas de
compreensão.
Não podemos permanecer em uma ou em outra forma de
lidar com a informação; podemos utilizar todas em diversos momentos, mas
provavelmente teremos maior repercussão se começarmos pela multimídica,
passarmos para a hipertextual e, em estágios mais avançados, concentrarmo-nos
na lógico-seqüencial.
Há um
tipo de conhecimento "multimídico" de respostas rápidas, que é
importante. Mas muitas pessoas mantêm uma estrutura precária de relação com o
mundo, têm uma relação muito provisória com o devir, com o que vai acontecendo.
Fixam-se na rapidez do próprio acontecer na cidade grande, saturada de
estímulos fugazes, e esse fluir como que embriaga e concentra a atenção de
muitos - principalmente dos jovens - na precariedade dos fatos. Essas pessoas
não têm o suficiente distanciamento nem aparato intelectual para julgar, para
selecionar, para encontrar conexões, causas e efeitos, relações, hierarquias.
Tudo é fluido, válido, tudo tem importância e, em pouco tempo, perde o valor
anterior. É uma atitude que se manifesta no ininterrupto consumo de imagens e
sons, no navegar na Internet, no deixar-se "ficar" diante da
televisão, numa salada de dados, informações, narrativas, gêneros, enfoques. As
pessoas não permanecem totalmente passivas; elas interagem de alguma forma, mas
muitas não estão preparadas para lidar com tanta variedade de dados, de
estímulos, e aceitam e adotam a última moda na mídia ou na roupa. É um presente
muito efêmero, que não tem história, porque é esquecido, ao ser substituído por
novas-iguais mensagens.
Tornamo-nos cada
vez mais dependentes do sensorial. Isso é interessante, mas muitos não partem do
sensorial para vôos mais ricos, abertos, inovadores. Muitos se deixam seduzir
pelo atrativo de poder tocar, sentir, ver, ouvir. Uma das tarefas principais da
educação é ajudar a desenvolver tanto o conhecimento de resposta imediata como
o de longo prazo; tanto o que está ligado a múltiplos estímulos sensoriais como
o que caminha em ritmos mais lentos, que exige pesquisa mais detalhada, e tem
de passar por decantação, revisão, reformulação. Muitos dados, muita informação
não significam necessariamente mais e melhor conhecimento. O conhecimento
toma-se produtivo se o integramos em uma visão ética pessoal, transformando-o
em sabedoria, em saber pensar para agir melhor.
Caminhos que
facilitam a aprendizagem
De tudo, de
qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação ou
experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar
o que já sabemos, para rejeitar determinadas visões de mundo, para incorporar
novos pontos de vista.
Um dos grandes
desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a
escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas
possibilidades, a compreendê-las de forma cada mais abrangente e profunda e a
torná-las parte do nosso referencial.
Aprendemos melhor
quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos,
estabelecemos vínculos, laços, entre o que estava solto, caótico, disperso,
integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo
sentido.
Aprendemos quando
descobrimos novas dimensões de significação que antes se nos escapavam, quando
vamos ampliando o círculo de compreensão do que nos rodeia, quando, como numa
cebola, vamos descascando novas camadas que antes permaneciam ocultas à nossa
percepção, o que nos faz perceber de uma outra forma. Aprendemos mais quando
estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a
conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente.
Aprendemos quando
equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o
pessoal e o social.
Aprendemos pelo
pensamento divergente, por meio da tensão, da busca, e pela convergência - pela
organização, pela integração.
Aprendemos pela
concentração em temas ou objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando
estamos de antenas ligadas, atentos ao que acontece ao nosso lado. Aprendemos
quando perguntamos, questionamos.
Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando
interiorizamos, quando
nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese,
nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal.
Aprendemos pelo
interesse, pela necessidade. Aprendemos mais facilmente quando percebemos o
objetivo, a utilidade de algo, quando nos traz vantagens perceptíveis. Se
precisamos nos comunicar em inglês pela Internet ou viajar para fora do país, o
desejo de aprender inglês aumenta e facilita a aprendizagem dessa língua.
Aprendemos
pela criação de hábitos, pela automatização de processos, pela repetição.
Ensinar torna-se mais duradouro, quando conseguimos que os outros repitam
processos desejados. Exemplo: quando lemos textos com freqüência, a leitura
passa a fazer parte do nosso dia-a-dia. Dessa forma, nossa resistência a ler
vai diminuindo.
Aprendemos pela
credibilidade que alguém nos merece. A mesma mensagem dita por uma pessoa ou
por outra pode ter pesos bem diferentes, dependendo de quem fala e de como o
faz. Aprendemos também pelo estímulo, pela motivação de alguém que nos mostra
que vale a pena investir num determinado programa, num determinado curso. Um
professor que transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a
disposição para aprender.
Aprendemos pelo
prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o
ambiente agradável, o estímulo positivo podem facilitar a aprendizagem.
Aprendemos mais,
quando conseguimos juntar todos os fatores; temos interesse, motivação clara;
desenvolvemos hábitos que facilitam o processo de aprendizagem; e sentimos
prazer no que estudamos e na forma de fazê-lo.
Aprendemos
realmente quando conseguimos transformar nossa vida em um processo permanente,
paciente, confiante e afetuoso de aprendizagem. Processo permanente, porque
nunca acaba. Paciente, porque os resultados nem sempre aparecem imediatamente e
sempre se modificam. Confiante, porque aprendemos mais se temos uma atitude
confiante, positiva, diante da vida, do mundo e de nós mesmos. Processo
afetuoso, impregnado de carinho, de ternura, de compreensão, porque nos faz
avançar muito mais.
Conhecimento pela
comunicação e pela interiorização
O conhecimento se dá fundamentalmente no processo
de interação, de comunicação. A informação é o primeiro passo para conhecer.
Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora.
Conhecer é saber, é desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da
exterioridade. Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais
fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior. Conhecer é conseguir chegar
ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese, que
se consegue ao comunicar-se com uma nova visão do mundo, das pessoas e com o
mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá no processo rico de
interação externo e interno. Pela comunicação aberta e confiante desenvolvemos
contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento
pessoal, comunitário e social.
Conseguimos
compreender melhor o mundo e os outros, equilibrando os processos de interação
e de interiorização. Pela interação entramos em contato com tudo o que nos
rodeia; captamos as mensagens, revelamo-nos e ampliamos a percepção externa.
Mas a compreensão só se completa com a interiorização, com o processo de
síntese pessoal, de reelaboração de tudo o que captamos por meio da interação.
Temos muitas
chances de interagir, de buscar novas informações. Somos solicitados continuamente a ver novas coisas, a
encontrar novas pessoas, a ler novos textos. A
sociedade - principalmente pelos meios de Comunicação - puxa-nos em direção ao
externo e não há a mesma preocupação em equilibrar a saída para o mundo com a
interiorização e o ambiente de calma,
meditação e paz, necessários para nos reencontrar-mos, para nos aceitarmos, para
elaborarmos novas sínteses.
Hoje há mais pessoas
voltadas para fora do que para dentro de si, mais repetidoras
do que criadoras, mais desorientadas do que integradas.
Interagiremos
melhor se soubermos também interiorizar, se encontrarmos formas mais ricas de
compreensão, que proporcionarão novos momentos
de interação. Se equilibrarmos o interagir e o interiorizar conseguiremos
avançar mais, compreender melhor o que nos rodeia, o que somos; conseguiremos
levar ao outro novas sínteses e não seremos só papagaios, repetidores do que
ouvimos.
Os processos de
conhecimento dependem profundamente do social, do ambiente cultural onde
vivemos, dos grupos com os quais nos relacionamos. A cultura onde mergulhamos
interfere em algumas dimensões da nossa percepção. Um jovem dos anos 60 se
parece com um jovem da década de 1990, mas, ao mesmo tempo, muitas percepções e
muitos valores mudaram radicalmente. Do hippie
contestador dos anos 60 passamos hoje para um jovem mais conservador, mais
preocupado com sua qualidade de vida, com seu futuro profissional, em querer
ter acesso aos bens de consumo. É um jovem, em geral, menos idealista e com menos
sentimentos de culpa que os seus próprios pais.
O conhecimento depende significativamente de como
cada um processa as suas experiências quando criança, principalmente no campo
emocional. Se a criança sente-se apoiada, incentivada, ela explorará novas
situações, novos limites, expor-se-á a novas buscas. Se, pelo contrário,
sente-se rejeitada, rebaixada, poderá reagir com medo, com rigidez, fechando-se
defensivamente diante do mundo, não explorando novas situações.
As interferências
emocionais, os roteiros aprendidos na infância levam a formas de aprender
automatizadas por alguns mecanismos, que ajudam e complicam o processo. Um
deles é o da passagem da experiência particular para a geral, o processo
chamado de generalização. Com a
repetição de algumas situações semelhantes, a tendência do cérebro é a de
acreditar que elas acontecerão sempre do mesmo jeito, e isso torna-se algo
geral, torna-se padrão. Diante de novas experiências, a tendência será
enquadrá-las rapidamente nos padrões anteriores fixados, sem analisá-las muito
profundamente, a não ser que haja divergências extremamente fortes. Com a
generalização facilitamos a compreensão rápida, mas podemos deturpar ou
simplificar a nossa percepção do objeto focalizado. O estereótipo é um processo
de generalização e fixação de conteúdo, que se cristaliza e dificilmente se
modifica.
Esses processos de
generalização e de interferências emocionais levam a mudanças, a distorções, a
alterações na percepção da realidade. Cada um conhece a partir de todos esses
filtros, de todos esses condicionamentos. Muitos dados não são sequer
percebidos, são deixados de lado antes de serem decodificados. Quando há muitos
estímulos simultâneos, o cérebro seleciona os que considera principais e corre
em busca dos estereótipos e das formas já familiares. Cada um pensa que a sua
percepção é completa e verdadeira e tem dificuldade em aceitar as percepções
diferentes dos outros.
Se
nossos processos de percepção estão distorcidos, podem nos levar desde pequenos
a enxergar-nos de forma negativa, a não nos avaliarmos corretamente. Conhecer a
si mesmo, aos outros, conhecer o mundo de forma cada vez mais ampla, plena e
profunda é o primeiro grande passo para mudar, evoluir, crescer, ser livre e
realizar-se.
Um dos eixos
das mudanças na educação passa pela sua transformação em um processo de
comunicação autêntica e aberta entre professores e alunos, principalmente,
incluindo também administradores, funcionários e a comunidade, notadamente os
pais. Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional
participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro desse
contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar
de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo - os alunos
aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos, mas não aprendem a
ser pessoas, a ser cidadãos.
Parece uma
ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva,
onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se
esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando
não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que
aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de
cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às
mudanças necessárias.
As tecnologias nos
ajudam a realizar o que já fazemos ou desejamos. Se somos pessoas abertas, elas
nos ajudam a ampliar a nossa comunicação; se somos fechados, ajudam a nos
controlar mais. Se temos propostas inovadoras, facilitam a mudança.
Com ou sem
tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de
compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) por meio da
comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de
todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo
dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo,
de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas,
emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do
professor e do aluno.
Podemos modificar
a forma de ensinar
Cada organização
precisa encontrar sua identidade educacional, suas características específicas,
o seu papel. Um projeto inovador facilita as mudanças organizacionais e
pessoais, estimula a criatividade, propicia maiores transformações. Um bom
diretor ou administrador pode contribuir para modificar uma ou mais
instituições educacionais. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve
também a mantermos no nível organizacional e interpessoal formas de
gerenciamento autoritário, pessoas que não estão acompanhando profundamente as mudanças
na educação, que buscam o sucesso imediato, o lucro fácil, o marketing como estratégia principal.
Para encaminhar
nossas dificuldades em ensinar, poderiam ser estas algumas pistas: equilibrar o
planejamento institucional e o pessoal nas organizações educacionais, integrar
um planejamento flexível com criatividade sinérgica, realizar um equilíbrio
entre a flexibilidade (que está ligada ao conceito de liberdade, de
criatividade) e a organização (onde há hierarquia, normas, maior rigidez). Nem
planejamento fechado, nem criatividade desorganizada, que vira só improvisação.
Avançaremos mais
se soubermos adaptar os programas previstos às necessidades dos alunos, criando
conexões com o cotidiano, com o inesperado, se transformarmos a sala de aula em
uma comunidade de investigação.
Avançaremos mais se
aprendermos a equilibrar planejamento e criatividade, organização e adaptação a
cada situação, a aceitar os imprevistos, a gerenciar o que podemos prever e a
incorporar o novo, o inesperado. Planejamento aberto, que prevê, que está
pronto para mudanças, para sugestões, adaptações. Criatividade, que envolve
sinergia, pôr as diversas habilidades em comunhão, valorizar as contribuições
de cada um, estimulando o clima de confiança, de apoio.
Com a
flexibilidade procuramos adaptar-nos às diferenças individuais, respeitar os
diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenças locais e os contextos culturais. Com a organização,
buscamos gerenciar as divergências, os tempos, os conteúdos, os custos,
estabelecemos os parâmetros fundamentais.
Colaboram
para isto: traçar linhas de ação pedagógica maiores (gerais) que norteiem as
ações individuais, sem sufocá-las, respeitar os estilos de dar aula que dão
certo, respeitar as diferenças que contribuam para o mesmo objetivo, personalizar
os processos de ensino-aprendizagem sem descuidar do coletivo, encontrar o
estilo pessoal de dar aula, por meio do qual nos sintamos confortáveis e
consigamos realizar melhor os objetivos.
Ensinar e
aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de
grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de
comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a
extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços
menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em
escolher quais são significativas para nós e em conseguir integrá-las dentro da
nossa mente e da nossa vida.
A aquisição
da informação, dos dados, dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias
podem trazer, hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel
do professor - o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados,
a relacioná-los, a contextualizá-los.
Aprender depende
também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para incorporar a real
significação que essa informação tem para ele, para incorporá-la
vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do
contexto pessoal - intelectual e emocional - não se tornará verdadeiramente
significativa, não será aprendida verdadeiramente.
Avançaremos mais
pela educação positiva do que pela repressiva. É importante não começar pelos problemas, pelos
erros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim começar pelo positivo,
pelo incentivo, pela esperança, pelo apoio na nossa capacidade de aprender e de
mudar.
Ajudar o aluno a
acreditar em si, a sentir-se seguro, a valorizar-se como pessoa, a aceitar-se
plenamente em todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em si, será
mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equilíbrio entre direitos e
deveres, a dimensão grupal e social.
O docente como
orientador/mediador de aprendizagem
O professor, com o acesso a tecnologias
telemáticas, pode se tornar um orientador/gestor setorial do processo de
aprendizagem, integrando de forma equilibrada a orientação intelectual, a
emocional e a gerencial.
O professor é um
pesquisador em serviço. Aprende com a prática e a pesquisa e ensina a partir do
que aprende. Realiza-se aprendendo-pesquisando-ensinando-aprendendo. O seu
papel é fundamentalmente o de um orientador/mediador.
Orientador/mediador intelectual - Informa, ajuda a escolher as informações mais
importantes, trabalha para que elas se tornem significativas para os alunos,
permitindo que eles as compreendam, avaliem - conceitual e eticamente -,
reelaborem-nas e adaptem-nas aos seus contextos pessoais Ajuda a ampliar o grau
de compreensão de tudo, a integrá-lo em novas sínteses provisórias.
Orientador/mediador
emocional - Motiva, incentiva,
estimula, organiza os limites, com equilíbrio, credibilidade, autenticidade,
empatia.
Orientador/mediador
gerencial e comunicacional -
Organiza grupos, atividades de pesquisa, ritmos, interações. Organiza o
processo de avaliação. É a ponte principal entre a instituição, os
alunos e os demais grupos envolvidos (a comunidade). Organiza o equilíbrio
entre o planejamento e a criatividade. O professor atua como orientador
comunicacional e tecnológico; ajuda a desenvolver todas as formas de expressão,
de interação, de sinergia, de troca de linguagens, conteúdos e tecnologias.
Orientador ético - Ensina a assumir e vivenciar valores
construtivos, individual e socialmente. Cada um dos professores colabora cor um
pequeno espaço, uma pedra na construção dinâmica do “mosaico”
sensorial-intelectual-emocional-ético de cada aluno. Este vai organizando
continuamente seu quadro referencial de valores, idéias, atitudes, tendo por
base alguns eixos fundamentais comuns como a liberdade, a cooperação, a integração
pessoal. Um bom educador faz a diferença.
Alguns princípios metodológicos norteadores
· Integrar tecnologias, metodologias,
atividades. Integrar texto escrito, comunicação oral, escrita,
hipertextual, multimídica.
Aproximar as mídias, as atividades, possibilitando que transitem
facilmente de um meio para o
outro, de um formato para outro. Experimentar as mesmas
atividades em diversas
mídias. Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola.
· Variar a forma de dar aula, as técnicas usadas em sala de aula e
fora dela, as atividades
solicitadas, as dinâmicas propostas, o
processo de avaliação. A previsibilidade do que o docente
vai fazer pode tornar-se um obstáculo
intransponível. A repetição pode tornar-se insuportável, a
não ser que a qualidade do professor
compense o esquema padronizado de ensinar...
·
Planejar e improvisar, prever e
ajustar-se às circunstâncias, ao novo. Diversificar, mudar, adaptar-
se
continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário.
· Valorizar a presença no que ela tem de
melhor e a comunicação virtual no que ela nos favorece.
Equilibrar a presença e a
distância, a comunicação "olho no olho" e a telemática.
Integrar as tecnologias de forma inovadora
Aprendemos quando
relacionamos, integramos. Uma parte importante da aprendizagem acontece quando
conseguimos integrar todas as tecnologias, as telemáticas, as audiovisuais, as
textuais, as orais, musicais, lúdicas, corporais.
Passamos muito
rapidamente do livro para a televisão e o vídeo e destes para o computador e a
Internet, sem aprender e explorar todas as possibilidades de cada meio.
O professor tem um
grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de organizar sua
comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos
presencial e virtualmente, de avaliá-los.
Cada docente pode
encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e os muitos
procedimentos metodológicos. Mas também é importante que amplie, que aprenda a
dominar as formas de comunicação interpessoal/grupal e as de comunicação
audiovisual/telemática.
Não se trata de
dar receitas, porque as situações são muito diversificadas. É importante que
cada docente encontre sua maneira de sentir-se bem, comunicar-se bem, ensinar
bem, ajudar os alunos a aprender melhor. É importante diversificar as formas de
dar aula, de realizar atividades, de avaliar.
Integrar os meios
de comunicação na escola
Antes de a criança
chegar à escola, já passou por processos de educação importantes: pelo familiar
e pela mídia eletrônica. No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e
emocionalmente, a criança vai desenvolvendo as suas conexões cerebrais, os seus
roteiros mentais, emocionais e suas linguagens. Os pais, principalmente a mãe,
facilitam ou complicam, com suas atitudes e formas de comunicação mais ou menos
maduras, o processo de aprender a aprender dos seus filhos.
A criança também é
educada pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar-se, a
conhecer - os outros, o mundo, a si mesma -, a sentir, a fantasiar, a relaxar,
vendo, ouvindo, "tocando" as pessoas na tela, pessoas estas que lhe
mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia
eletrônica é prazerosa - ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita
através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa -
aprendemos vendo as histórias dos outros e as histórias que os outros nos
contam. Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma
–mais fácil, agradável, compacta - sem precisar fazer esforço. Ela fala do
cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando como
contraponto à educação convencional, educa enquanto estamos entretidos.
Os meios de
comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas
multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo
linguagens e mensagens que facilitam a interação com o público. A TV fala
primeiro do "sentimento" - o que você "sentiu", não o que
você conheceu; as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e
afetiva.
Os meios de
comunicação operam imediatamente com o sensível, o concreto, principalmente a
imagem em movimento. Combinam a dimensão espacial com a cinestésica, onde o
ritmo torna-se cada vez mais alucinante (como nos videoclipes). Ao mesmo tempo
utilizam a linguagem conceitual, falada e escrita, mais formalizada e racional.
Imagem, palavra e música integram-se dentro de um contexto comunicacional
afetivo, de forte impacto emocional, que facilita e predispõe a aceitar mais
facilmente as mensagens.
A eficácia de
comunicação dos meios eletrônicos, em particular da televisão, deve-se também à
capacidade de articulação, de superposição e de combinação de linguagens
totalmente diferentes – imagens, falas, música, escrita - com uma narrativa
fluida, urna lógica pouco delimitada, gêneros, conteúdos e limites éticos pouco
precisos, o que lhes permite alto grau de entropia, de interferências por parte
de concessionários, produtores e consumidores.
A televisão
combina imagens estáticas e dinâmicas, imagens ao vivo e gravadas, imagens de
captação imediata, imagens referenciais (registradas diretamente com a câmera)
com imagens criadas por um artista no computador. Junta imagens sem ligação
referencial (não relacionadas com o real) com imagens "reais" do
passado (arquivo, documentários) e mistura-as com imagens "reais" do
presente e imagens do passado não-"reais".
A imagem na
televisão, no cinema e no vídeo é sensorial, sensacional e tem um grande
componente subliminar, isto é, passa muitas informações que não captamos
claramente.
O olho nunca
consegue captar toda a informação. Então escolhe um nível que dê conta do
essencial, do suficiente para dar um sentido ao caos, de organizar a
multiplicidade de sensações e dados. Foca a atenção, em alguns aspectos
analógicos, nas figuras destacadas, nas que se movem, e com isso conseguimos
acompanhar uma história. Mas deixamos de lado inúmeras informações visuais e
sensoriais, que não são percebidas conscientemente. A força da linguagem
audiovisual está no fato de ela conseguir dizer muito mais do que captamos, de
ela chegar simultaneamente por muitos mais caminhos do que conscientemente
percebemos e de encontrar dentro de nós uma repercussão em imagens básicas,
centrais, simbólicas, arquetípicas com as quais nos identificamos ou que se
relacionam conosco de alguma forma.
É uma comunicação
poderosa, como nunca antes tivemos na história da humanidade, e as novas
tecnologias de multimídia e realidade virtual só estão tornando esse processo
de simulação muito mais exacerbado, explorando-o até limites inimagináveis.
A organização da
narrativa televisiva, principalmente a visual, não se baseia somente - e muitas
vezes não primordialmente - na lógica convencional, na coerência interna, na
relação causa-efeito, no princípio de não-contradição, mas numa lógica mais
intuitiva, mais conectiva. Imagens, palavras e música vão se agrupando segundo
critérios menos rígidos, mais livres e subjetivos dos produtores que pressupõem
um tipo lógica da recepção também menos racional, mais intuitiva.
Um dos critérios
principais é a contigüidade à justaposição por algum tipo de analogia, de
associação por semelhança ou por oposição, por contraste. Ao colocar pedaços de
imagens ou cenas juntas, em seqüência, criam-se novas relações, novos
significados, que antes não existiam e que passam a ser considerados
aceitáveis, "naturais", "normais". Colocando, por exemplo,
várias matérias em seqüência, num
mesmo bloco e em dias sucessivos - como se
fossem capítulos de uma novela -, sobre o assassinato de uma atriz, ou de
várias crianças, ou outros crimes semelhantes acontecidos no Brasil e em outros
países, multiplica-se a reação de indignação da população, o seu desejo de
vingança. Isso favorece os defensores da pena de morte, o que não estava
explícito nas reportagens e talvez nem fosse a intenção dos produtores.1
A televisão
estabelece uma conexão aparentemente lógica entre mostrar e demonstrar. Mostrar
é igual a demonstrar, a provar, a comprovar. A força da imagem é tão evidente
que se torna difícil não fazer essa associação comprobatória ("se uma
imagem me impressiona, é verdadeira"). Também é muito comum a lógica de
generalizar a partir de uma situação concreta. Do individual, tendemos ao
geral. Uma situação isolada converte-se em situação paradigmática padrão. A
televisão, principalmente, transita continuamente entre as situações concretas
e a generalização. Mostra dois ou três escândalos na família real inglesa e
tira conclusões sobre o valor e a ética da realeza
como um todo.
Ao mesmo tempo, o
não mostrar eqüivale a não existir, a não acontecer. O que não se vê perde
existência. Um fato mostrado com imagem e palavra tem mais força que se for
mostrado somente com palavra. Muitas situações importantes do cotidiano perdem
força por não terem sido valorizadas pela imagem-palavra televisiva.
A educação escolar
precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus
códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É
importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos
das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos. O poder público pode
propiciar o acesso de todos os alunos às tecnologias de comunicação como uma
forma paliativa, mas necessária, de oferecer melhores oportunidades aos pobres,
e também para contrabalançar o poder dos grupos empresariais e neutralizar
tentativas ou projetos autoritários.2
Se a educação fundamental é feita pelos pais e pela
mídia, urgem ações de apoio aos pais para que incentivem a aprendizagem dos
filhos desde o começo de suas vidas, por meio do estímulo, das interações, do
afeto. Quando a criança chega à escola, os processos fundamentais de
aprendizagem já estão desenvolvidos de forma significativa. Urge também a
educação para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e utilizá-las da
forma mais abrangente possível.
Integrar a
televisão e o vídeo na educação escolar
O vídeo está umbilicalmente ligado à televisão e a
um contexto de lazer, de entretenimento, que passa imperceptivelmente para a
sala de aula. Vídeo, na cabeça dos alunos, significa descanso e não
"aula", o que
modifica a postura, as
expectativas em relação ao seu uso. Precisamos aproveitar essa expectativa
positiva para atrair o aluno para os assuntos do nosso planejamento pedagógico.
Mas, ao mesmo tempo, devemos saber que necessitamos prestar atenção para
estabelecer novas pontes entre o vídeo e as outras dinâmicas da aula.
A televisão e o
video partem do concreto, do visível, do imediato, do próximo - daquilo que
toca todos os sentidos. Mexem com o corpo, com a pele - nos tocam e
"tocamos" os outros, estão ao nosso alcance através dos recortes
visuais, do close, do som estéreo envolvente. Pela TV e pelo vídeo
sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos.
Televisão e vídeo
exploram também - e basicamente - o ver, o visualizar, o ter diante de nós as
situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais
(próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno,
equilíbrio-desequilíbrio). Desenvolvem um ver entrecortado - com múltiplos
recortes da realidade - através dos planos, e muitos ritmos visuais: imagens
estáticas e dinâmicas, câmera fixa ou em movimento, uma ou várias câmeras,
personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas ou criadas no
computador. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga não
linearmente com o passado e com o futuro.
O ver está, na
maior parte das vezes, apoiando o falar, o narrar o contar histórias. A fala
aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pessoas se comunicam habitualmente.
Os diálogos expressam a fala coloquial, enquanto o narrador (normalmente em off) "costura" as cenas, as outras falas,
dentro da norma culta, orientando a significação do conjunto. A narração falada
ancora todo o processo de significação.
A música e os efeitos sonoros servem como evocação,
lembrança (de situações passadas), de ilustração - associados a personagens do
presente, como nas telenovelas - e de criação de expectativas, antecipando
reações e informações.
A televisão e o
vídeo são também escrita. Os textos, as legendas, as citações aparecem cada vez
mais na tela, principalmente nas traduções (legendas de filmes) e nas
entrevistas com estrangeiros. Hoje, graças ao gerador de caracteres - que
permite colocar na tela textos coloridos, de vários tamanhos e com rapidez,
fixando ainda mais a significação atribuída à narrativa falada -, a escrita na
tela tornou-se fácil.
Televisão e vídeo
são sensoriais, visuais, linguagem falada, linguagem musical e escrita.
Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí
a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras.
Televisão e vídeo nos seduzem, informam, entretêm, projetam em outras
realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços.
Televisão e vídeo
combinam a comunicação sensorial-cinestésica, com a audiovisual, a intuição com
a lógica, a emoção com a razão. Integração que começa pelo sensorial, pelo
emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional.
Televisão e vídeo
encontraram a fórmula de comunicar-se com a maioria das pessoas, tanto crianças
como adultos. O ritmo torna-se cada vez mais alucinante (por exemplo nos
videoclipes). A lógica da narrativa não se baseia necessariamente na
causalidade, mas na contigüidade, em colocar um pedaço de imagem ou história ao
lado da outra. A sua retórica conseguiu encontrar fórmulas que se adaptam
perfeitamente à sensibilidade do homem contemporâneo. Usam uma linguagem concreta,
plástica, de cenas curtas, com pouca informação de cada vez, com ritmo
acelerado e contrastado, multiplicando os pontos de vista, os cenários, os
personagens, os sons, as imagens, os ângulos, os efeitos.
Os temas são pouco
aprofundados, explorando os ângulos emocionais, contraditórios, inesperados.
Passam a informação em pequenas doses (compacto), organizadas em forma de
mosaico (rápidas sínteses de cada assunto) e com apresentação variada (cada
tema dura pouco e é ilustrado).
As mensagens dos
meios audiovisuais exigem pouco esforço e envolvimento do receptor. Este tem
cada vez mais opções, mais possibilidades de escolha (controle remoto, canais
por satélite, por cabo, escolha de filmes em vídeo). Começamos a ter maior
possibilidade de interação: televisão bidirecional, jogos interativos, navegar
pelas imagens e por bancos de dados da Internet, acessar a
Internet pela televisão e realizar inúmeros serviços virtuais na tela: compras,
comunicação, aulas. A possibilidade de escolha e participação e a liberdade de
canal e acesso facilitam a relação do espectador com os meios.
As linguagens da TV e do vídeo respondem à
sensibilidade do jovens e da grande maioria da população adulta. São dinâmicas,
dirigem-se antes à afetividade do que à razão. O jovem lê o que pode
visualizar, precisa ver para compreender. Toda a sua fala é mais
sensorial-visual do que racional e abstrata. Lê, vendo.
A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas
atitudes perceptivas: solicita constantemente a imaginação e reinveste a afetividade
com um papel de mediação primordial no mundo, enquanto a linguagem escrita
desenvolve mais o rigor, a organização, a abstração e a análise lógica.
Propostas de
utilização da televisão e do vídeo na educação escolar
· Começar por vídeos mais simples, mais
fáceis, e exibir depois vídeos mais complexos e difíceis,
tanto do ponto de vista
temático quanto técnico. Pode-se partir de vídeos ligados à televisão, vídeos
próximos à sensibilidade dos
alunos, vídeo mais atraentes, e deixar para depois a exibição de
vídeos mais artísticos, mais
elaborados.
· Vídeo como sensibilização. É, do meu ponto de vista, o
uso mais importante na escola. Um bom
vídeo é interessantíssimo
para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a
motivação para novos temas.
Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o
assunto do vídeo e da
matéria,
·
Vídeo como
ilustração. O vídeo muitas vezes ajuda a mostrar o que se fala em aula, a
compor
cenários desconhecidos dos
alunos. Por exemplo, um vídeo que exemplifica como eram os romanos na época de
Júlio César ou Nero, mesmo que não seja totalmente fiel, ajuda a situar os
alunos no tempo histórico. Um vídeo traz para a sala de aula realidades
distantes dos alunos, como por exemplo a Amazônia ou a África. A vida se
aproxima da escola através do vídeo.
· Vídeo como simulação. É uma ilustração mais
sofisticada. O vídeo pode simular experiências de química que seriam perigosas
em laboratório ou que exigiriam muito tempo e recursos. Um vídeo pode mostrar o
crescimento acelerado de uma planta, de uma árvore - da semente até a
maturidade - em poucos segundos.
· Vídeo como conteúdo de ensino. Vídeo que
mostra determinado assunto, de forma direta ou indireta. De forma direta, quando
informa sobre um tema específico orientando sua interpretação. De forma
indireta, quando mostra um tema, permitindo abordagens múltiplas,
interdisciplinares.
· Vídeo como produção: i) Como documentação,
registro de eventos, de aulas, de estudos do meio, de experiências, de
entrevistas, depoimentos. Isso facilita o trabalho do professor, dos alunos e
dos futuros alunos. O professor deve poder documentar o que é mais importante
para o seu trabalho, ter o seu próprio material de vídeo assim como tem os seus
livros e apostilas para preparar suas aulas. O professor deve estar atento para
gravar o material audiovisual mais utilizado, para não depender sempre do
empréstimo ou aluguel dos mesmos programas; ii) Como intervenção: interferir,
modificar um determinado programa, um material audiovisual, acrescentando uma
nova trilha sonora ou editando o material de forma compacta ou introduzindo
novas cenas com novos significados. O professor precisa perder o medo do vídeo,
o respeito que tem por ele, e interferir nele como interfere num texto escrito,
modificando-o, acrescentando novos dados, novas interpretações, contextos mais
próximos do aluno; iii) Vídeo como expressão, como nova forma de comunicação,
adaptada à sensibilidade principalmente das crianças e dos jovens. As crianças
adoram fazer vídeo e a escola precisa incentivar o máximo possível a produção
de pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma dimensão
moderna, lúdica. Moderna, como um meio contemporâneo, novo e que integra
linguagens. Lúdica, pela miniaturização da câmera, que permite brincar com a
realidade, levá-la junto para qualquer lugar. Filmar é uma das experiências
mais envolventes tanto para as crianças como para os adultos. Os alunos podem
ser incentivados a produzir dentro de uma determinada matéria, ou dentro de um
trabalho interdisciplinar. E também produzir programas informativos, feitos por
eles mesmos, e colocá-los em lugares visíveis dentro da escola e em horários em
que muitas crianças possam assisti-los.
· Vídeo integrando o processo de avaliação:
dos alunos, do professor, do processo.
· Televisão/“Vídeo-espelho”. Vemo-nos na tela
e isso possibilita compreender-nos, descobrir nosso corpo, nossos gestos,
nossos cacoetes. "Vídeo-espelho" para análise do grupo e dos papéis de
cada um, para acompanhar o comportamento de cada um do ponto de vista
participativo, para incentivar os mais retraído e pedir aos que falam muito
para que dêem mais espaço ao colegas. O "vídeo-espelho" é de grande
utilidade para o professor se ver, examinar sua comunicação com os alunos, sua
qualidades e seus defeitos.
Algumas dinâmicas
de análise da televisão e do vídeo
Análise em conjunto - O professor exibe as cenas mais importantes e
as comenta junto com os alunos, com
base no que estes destacam ou perguntam. É uma conversa sobre o vídeo, com o
professor como moderador. O professor não deve ser o primeiro a dar a sua
opinião, principalmente em matérias controvertidas, nem monopolizar a
discussão, mas tampouco deve ficar em cima do muro. Deve posicionar-se, depois
dos alunos, trabalhando sempre dois planos: o ideal e o real; o que deveria ser
(modelo ideal) e o que costuma ser (modelo real).
Análise globalizante - Abordar os alunos, depois da exibição, a
respeito destas quatro questões: 1. Aspectos positivos do vídeo. 2. Aspectos
negativos. 3. Idéias principais que o vídeo passa. 4. O que eles mudariam no
vídeo. Se houver tempo, essas questões serão discutidas primeiro em grupos
menores e depois relatadas/escritas no plenário. O professor e os alunos destacam
as coincidências e divergências. O professor faz a síntese final, devolvendo ao
grupo as leituras predominantes (onde se expressam valores, que mostram como o
grupo é).
Leitura concentrada - Escolher, depois da exibição do vídeo, uma ou
duas cenas marcantes. Revê-las uma ou mais vezes e perguntar (oralmente ou por
escrito): O que chama mais a atenção (imagem/som/palavra)? O que dizem as cenas
(significados)? Quais suas conseqüências e aplicações (para a nossa vida, para
o grupo)?
AnáIise “funcional” - Antes da exibição, escolher algumas funções ou
tarefas (desenvolvidas por vários alunos): o narrador de cenas (descrição
sumária, por um ou mais alunos): anotar as palavras-chave; anotar as imagens
mais significativas; caracterização dos personagens; música e efeitos; mudanças
acontecidas no vídeo (do começo até o final). Depois da exibição, cada aluno
fala e o resultado é colocado no quadro negro ou flanelógrafo. Com base nas
anotações do quadro, o professor completa com os alunos as informações, relaciona
os dados e questiona as soluções apresentadas.
Análise da linguagem - 1. Que história é contada (reconstrução da
história). 2. Como é contada essa história (o que lhe chamou a atenção
visualmente; o que destacaria nos diálogos e na música). 3. Que idéias passa
claramente o programa (o que diz claramente esta história; o que contam e
representam os personagens; modelo de sociedade apresentado). 4. Ideologia do
programa (mensagens não questionadas – pressupostos ou hipóteses aceitos de
antemão, sem discussão; valores afirmados e negados pelo programa - como são
apresentados a justiça, o trabalho, o mundo; como cada participante julga esses
valores – concordâncias e discordâncias nos sistemas de valores envolvidos. A
partir de onde cada um de nós julga a história).
Completar o vídeo - 1. Exibe-se um vídeo até um determinado ponto.
2. Os alunos desenvolvem, em grupos, um final próprio e justificam o porquê da
escolha. 3. Exibe-se o final do vídeo. 4. Comparam-se os finais propostos e o
professor manifesta também a sua opinião.
Modificar o vídeo - Os alunos procuram vídeos e outros materiais
audiovisuais sobre um determinado assunto. Modificam, adaptam, editam, narram,
sonorizam diferentemente. Criam um novo material adaptado à sua realidade, à
sua sensibilidade.
Vídeoprodução
1. Narrativa em vídeo
sobre um determinado assunto. 2. Pesquisa em jornais, revistas, entrevistas com
pessoas. 3. Elaboração do roteiro, gravação, edição, sonorização. 4. Exibição
em classe e/ou em circuito interno. 5. Comentários positivos e negativos.
Estabelecer a diferença entre a intenção e o resultado obtido.
"Vídeo-espelho" - A câmera registra pessoas ou grupos e depois
se observa o resultado com comentários de cada um sobre seu desempenho e sobre
o dos outros. O professor olha seu desempenho, comenta e ouve os comentários
dos outros.
Videodramatização - 1. Representar situações importantes do vídeo
assistido e discuti-las comparativamente. Usar a representação, teatro, como
meio de expressão do que o vídeo mostrou, adaptando-o à realidade dos alunos.
Um exemplo: alguns alunos escolhem personagens de um vídeo e os representam
adaptando-os à sua realidade. Depois comparam-se os personagens do vídeo e os
da representação, a história do vídeo com a adaptada pelos alunos. 2. Adaptar o
vídeo ao grupo. 3. Contar - oralmente, por escrito ou audiovisualmente –
situações nossas próximas às mostradas no vídeo. 4. Desenhar uma tela de
televisão e colocar o que mais impressionou os alunos. O professor exibe num
mural os desenhos e todos comentarão as coincidências principais e o seu
significado.
Comparar versões - Procurar ver os pontos de convergência e
divergência de narrativas, versões, adaptações de uma mesma obra para o texto
escrito, para o cinema, o CD-ROM/DVD. Isto pode ser utilizado principalmente em
aulas de literatura portuguesa ou estrangeira - comparar um vídeo baseado em
uma obra literária com o texto original. Destacar os pontos fortes e fracos do
livro e da adaptação audiovisual.
O
computador e a Internet: Propostas metodológicas
Cada vez mais
poderoso em recursos, velocidade, programas e comunicação, o computador nos
permite pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos,
descobrir novos conceitos, lugares, idéias. Produzir novos textos, avaliações,
experiências. As possibilidades vão desde seguir algo pronto (tutorial),
apoiar-se em algo semidesenhado para complementá-lo até criar algo diferente,
sozinho ou com outros.
Especificamente em
rede, o computador se converte em um meio de comunicação, a última grande mídia,
ainda em estágio inicial, mas extremamente poderosa para o ensino e
aprendizagem. Com a Internet podemos modificar mais facilmente a forma de
ensinar e aprender tanto nos cursos presenciais como nos cursos a distância.
São muitos os caminhos, que dependerão da situação concreta em que o professor
se encontrar: número de alunos, tecnologias disponíveis, duração das aulas,
quantidade total de aulas que o professor dá por semana, apoio institucional.
Alguns parecem ser, atualmente, mais viáveis e produtivos.
É fundamental
procurar estabelecer, desde o início, uma relação empática com os alunos,
procurando conhecê-los, fazendo um mapeamento dos seus interesses, formação e
perspectivas futuras. A preocupação com os alunos - a forma de nos
relacionarmos com eles - é imprescindível o sucesso pedagógico. Os alunos captam se o
professor gosta ensinar e principalmente
se gosta deles e isso facilita a sua prontidão para aprender.
Vale a pena
descobrir as competências dos alunos que temos em cada classe, que
contribuições podem dar ao nosso curso. Não vamos impor um projeto fechado de
curso, mas um programa com as grandes diretrizes delineadas por onde vamos
construir caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos - professor e
alunos - para avançar da forma mais rica possível em cada momento.
É importante
mostrar aos alunos o que vamos ganhar ao longo semestre, por que vale a pena
estarmos juntos. Procurar motivá-los para aprender, para avançar, para a
importância da sua participação, para o processo de aula-pesquisa e para as
tecnologias que iremos utilizar, entre elas a Internet.
O professor pode
criar urna página pessoal na Internet, como espaço virtual de encontro e
divulgação, um lugar de referência para cada matéria e para cada aluno. Essa
página pode ampliar o alcance trabalho do professor, de divulgação de suas
idéias e propostas, de contato com pessoas fora da universidade ou escola. Num
primeiro momento a página pessoal é importante como referência virtual, como
ponto de encontro permanente entre ele e os alunos. A página pode ser aberta a
qualquer pessoa ou só para os alunos, dependendo de cada situação. O importante é que professor e alunos
tenham um espaço, além do presencial, de encontro e visibilização virtual.
Hoje, começamos a
ter acesso a programas que facilitam a criação de ambientes virtuais, que
colocam alunos e professores juntos na Internet. Programas como o Eureka da PUC de Curitiba, o Learning Space da Lotus-IBM, o WEBCT, o Aulanet da PUC do Rio de Janeiro, o Firstclass o Universite, o Blackboard
e outros semelhantes, permitem que o
professor disponibilize o seu curso, oriente as atividades dos alunos, e que
estes criem suas páginas, participem de pesquisas em grupo, discutam assuntos
em fóruns ou chats. O curso pode ser
construído aos poucos, as interações ficam registradas, as entradas e saídas
dos alunos monitoradas. O papel do professor amplia-se significativamente. Do
informador, que dita conteúdo, transforma-se em orientador de aprendizagem, em
gerenciador de pesquisa e comunicação, dentro e fora da sala de aula, de um
processo que caminha para ser semi-presencial, aproveitando o melhor do que
podemos fazer na sala de aula e no ambiente virtual.
O professor -
tendo uma visão pedagógica inovadora, aberta, que pressupõe a participação dos
alunos - pode utilizar algumas ferramentas simples da Internet para melhorar a
interação presencial-virtual entre todos.
Lista eletrônica/Fórum
Em relação à
Internet, devemos procurar fazer com que os alunos dominem as ferramentas da WEB, que aprendam a navegar e que todos
tenham seu endereço eletrônico (e-mail). Com
os e-mails de todos é interessante
criar uma lista interna de cada turma.
A lista eletrônica
interna ajuda a criar uma conexão virtual permanente entre o professor e os
alunos, a levar informações importantes para o grupo, orientação bibliográfica,
de pesquisa, a dirimir dúvidas, trocar sugestões, enviar textos e trabalhos.
A lista eletrônica
é um novo campo de interação que se acrescenta ao que começa na sala de aula,
no contato físico e que depende dele. Se houver interação real na sala, a lista
acrescenta uma nova dimensão, mais rica. Se no presencial houver pouca
interação, provavelmente essa interação também não ocorrerá no virtual.
Aulas-pesquisa
Podemos
transformar uma parte das aulas em processos contínuos de informação,
comunicação e pesquisa, por meio dos quais vamos construindo o conhecimento e
equilibrando o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador
e os alunos-participantes ativos. Aulas-informação, nas quais o professor
mostra alguns cenários, algumas sínteses, o estado da arte, as coordenadas de
uma questão ou tema. Aulas-pesquisa, nas quais professores e alunos procuram
novas informações, cercar um problema, desenvolver
uma experiência, avançar em um campo desconhecido. O professor motiva,
incentiva, dá os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que
vai ser leito, para a importância da participação do aluno nesse processo.
Aluno motivado e com participação ativa avança mais, facilita todo o trabalho
do professor. O papel do professor agora é o de gerenciador do processo de
aprendizagem, é o coordenador de todo o andamento, do ritmo adequado, o gestor
das diferenças e das convergências.
Uma proposta
viável é escolher os temas fundamentais do curso e trabalhá-los mais
coletivamente, pesquisando mais individualmente ou em pequenos grupos os temas
secundários ou pontuais.
Os grandes temas
da matéria são coordenados pelo professor, iniciados pelo professor, motivados
pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às vezes todos simultaneamente -
ora em grupos, individualmente. A pesquisa grupal na Internet pode começar de
forma aberta, dando somente o tema sem referências a sites específicos, para que
os alunos procurem de acordo com a sua experiência e seu conhecimento prévio.
Isso permite ampliar o leque de opções de busca, a variedade de resultados, a
descoberta de lugares desconhecidos pelo professor. Eles vão gravando os
endereços, os artigos e as imagens mais interessantes em disquete e também
fazem anotações escritas, com rápidos comentários sobre o que estão salvando. O
professor incentiva a troca constante de informações, a comunicação, mesmo
parcial, dos resultados que vão sendo obtidos, para que todos possam se
beneficiar dos achados dos colegas. É mais importante aprender através da
colaboração, da cooperação, do que da competição. O professor estará atento aos
vários ritmos, às descobertas, servirá de elo entre todos, será o divulgador de
achados, o problematizador e principalmente o incentivador. Depois de um tempo,
ele coordena a síntese das buscas feitas, organiza os resultados, os caminhos
que parecem mais promissores.
Passa-se, num
segundo momento, à pesquisa mais focada, mais específica, a baseada nos
resultados anteriores. O mesmo tema vai ser pesquisado no mesmo endereço, de
forma semelhante por todos. É uma forma de aprofundar os dados conseguidos
anteriormente e evitar o alto grau de entropia e dispersão que pode acontecer
na etapa anterior da pesquisa aberta. Como na etapa anterior, é importante a
troca de informações, a divulgação dos principais achados. Há vários caminhos
para aprofundar as pesquisas. Do simples ao complexo, do geral ao específico,
do aberto ao dirigido, focado. Os temas podem ser aprofundados como em ondas, cada
vez mais ricas, abertas, aprofundadas. Os alunos comunicam os resultados da
pesquisa. O professor ajuda-os a fazer a síntese do que encontraram.
O professor atua
como coordenador, motivador, elo do grupo. Os textos e materiais que parecem
mais promissores são salvos, impressos ou enviados por e-mail para cada aluno. Faz-se uma síntese dos materiais coletados,
das idéias percebidas, das questões levantadas e pede-se que todos leiam esses
materiais que parecem mais importantes para a próxima aula, numa leitura mais
aprofundada e que sirva como elo com a próxima etapa de uma discussão mais
rica, com conhecimento de causa. Os melhores textos e materiais podem ser
incorporados à bibliografia do curso. O professor utiliza uma parte do material
preparado de antemão (planejamento) e enriquece-a com as novas contribuições da
pesquisa grupal (construção cooperativa). Assim o papel do aluno não é o de
"tarefeiro", o de executar atividades, mas o de co-pesquisador,
responsável pela riqueza, pela qualidade e pelo tratamento das informações
coletadas. O professor está atento às descobertas, às dúvidas, ao intercâmbio
das informações (os alunos pesquisam, escolhem, imprimem) ao tratamento das
informações. O professor ajuda, problematiza, incentiva, relaciona.
Ao mesmo tempo, o
professor coordena a escolha de temas ou questões
mais específicos, que são selecionados ou propostos pelos alunos, dentro dos
parâmetros apresentados pelo professor e que serão desenvolvidos
individualmente ou em pequenos grupos. É interessante que os alunos escolham
algum assunto dentro do programa que esteja mais próximo do que eles valorizam
mais. Quanto mais jovens são os alunos, mais curto deve ser o tempo entre o
planejamento e a execução das pesquisas. Nas datas combinadas, as pesquisas são
apresentadas verbalmente para a classe, e um resumo escrito é trazido para a
aula enviado pela lista interna para todos os participantes. Alunos e professor
perguntam, complementam, participam.
O professor
procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a
problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações
trazidas. Esse caminho de ida e volta, no qual todos se envolvem, participam -
na sala de aula, na lista eletrônica e na
homepage -, é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O
conhecimento que é elaborado a partir da própria experiência torna-se muito
mais forte e definitivo em nós.
Construção cooperativa
A Internet
favorece a construção cooperativa, o trabalho conjunto entre professores e
alunos, próximos física ou virtualmente. Podemos participar de uma pesquisa em
tempo real, de um projeto entre vários grupos, de uma investigação sobre um
problema da atualidade.
Uma das formas
mais interessantes de trabalhar hoje colaborativamente é criar uma página dos
alunos, como um espaço virtual de referência, onde vamos construindo e
colocando o que acontece de mais importante no curso, os textos, os endereços,
as análises, as pesquisas. Pode ser um site provisório, interno, sem divulgação, que eventualmente poderá ser
colocado à disposição do público externo. Pode ser também um conjunto de sites individuais ou de pequenos grupos que se
visibilizam quando os alunos acharem conveniente. A criação da página não deve ser obrigatória, mas é importante incentivar a
participação de todos em sua elaboração. O formato, a colocação e a atualização
podem ficar a cargo de um pequeno grupo de
alunos.
O importante é combinar o que podemos fazer
melhor em sala de aula - conhecer-nos, motivar-nos, reencontrar-nos - com o que
podemos fazer a distância, pela lista - comunicar-nos quando for necessário e
também acessar os materiais construídos em conjunto na home page, na hora em que cada um achar conveniente.
É importante, neste processo
dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas
possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar
as dinâmicas tradicionais com as inovadoras, a escrita com o audiovisual, o
texto seqüencial com o hipertexto, o encontro presencial com o virtual.
O que muda no papel do professor? Muda a relação
de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas aumenta da
sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber informações amplia-se
para qualquer dia da semana. O processo de comunicação se dá na sala de aula,
na Internet, no e-mail, no chat. É um papel que combina alguns
momentos do professor convencional - às vezes é importante dar uma bela aula
expositiva - com mais momentos do gerente de pesquisa, do estimulador de busca,
do coordenador dos resultados. É um papel de animação e coordenação muito mais
flexível e constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição (radar
ligado) e domínio tecnológico.
Preparar
os professores para a utilização do computador e da Internet
O primeiro passo é procurar de todas as formas
tornar viável o acesso freqüente e personalizado de professores e alunos às
novas tecnologias, notadamente à Internet. É imprescindível que haja salas de aula
conectadas, salas adequadas para pesquisa, laboratórios bem equipados.
Professores e alunos necessitam ter facilitada a aquisição de seus próprios
computadores por meio de financiamentos públicos, privados - com juros baixos -
e o apoio de organizações sociais e não-governamentais. Pode parecer utopia
falar isso no Brasil atualmente, mas hoje o ensino de qualidade passa
necessariamente pelo acesso rápido, contínuo e abrangente a todas as
tecnologias, principalmente às telemáticas.
A sociedade precisa
ter como projeto político a procura de formas de diminuir a distância que
separa os que podem e os que não podem pagar pelo acesso à informação. As
escolas públicas e as comunidades carentes precisam ter esse acesso garantido
para não ficarem condenadas à segregação definitiva, ao analfabetismo
tecnológico, ao ensino de quinta classe.
O segundo passo é ajudar na familiarização com o
computador, com seus aplicativos e com a Internet. Aprender a utilizá-lo no
nível básico, como ferramenta. No nível mais avançado: dominar as ferramentas
da WEB, do e-mail. Aprender a pesquisar nos search, a participar de listas de discussão, a construir páginas.
O
nível seguinte é auxiliar os professores na utilização pedagógica da Internet e
dos programas multimídia. Ensiná-los a fazer pesquisa. Começar pela pesquisa
aberta, em que há liberdade de escolha do lugar (tema pesquisado livremente), e
pesquisa dirigida, focada para um endereço específico ou um site determinado. Pesquisa nos sites de busca, nos bancos de dados, nas
bibliotecas virtuais, nos centros de referência. Pesquisa dos temas mais gerais
para os mais específicos, pesquisa grupal e pessoal.
A Internet pode ser utilizada em um projeto
isolado de uma classe, como algo complementar, ou em um projeto voluntário, com
a inscrição de alunos. A Internet pode ser um projeto entre vários colégios ou
grupos da mesma cidade, de várias cidades ou mesmo de vários países. O projeto
pode evoluir para a interdisciplinaridade, integrando várias áreas e
professores. A Internet pode fazer parte de um projeto institucional, que
envolve toda a escola de forma mais colaborativa.
A escola pode
utilizar a Internet em uma sala especial ou laboratório, onde os alunos se
deslocam especialmente, em períodos determinados, diferentes dos da sala de
aula convencional. A Internet também pode ser utilizada na sala de aula,
conectada só pelo professor, como uma tecnologia complementar, ou pode ser
utilizada também pelos alunos conectados através de notebooks na mesma sala de aula, sem deslocamento.
Questões que a
Internet coloca ao professor
Ensinar utilizando
a Internet exige uma forte dose de atenção do professor. A navegação precisa de
bom senso, gosto estético e intuição. Bom senso para não se deter, diante de
tantas possibilidades, em todas elas, sabendo selecionar, em rápidas comparações,
as mais importantes. A intuição é um radar que vamos desenvolvendo à medida que
"clicamos" o mouse nos links que nos levarão mais perto do que
procuramos. A intuição nos leva a aprender por tentativa, acerto e erro. Às
vezes passaremos bastante tempo sem achar algo importante e, de repente, se
estivermos atentos, conseguiremos um artigo fundamental, uma página
esclarecedora. O gosto estético ajuda-nos a reconhecer e a apreciar páginas
elaboradas com cuidado, com bom gosto, com integração de imagem e texto.
Principalmente para os alunos, o estético é uma qualidade fundamental de
atração. Uma página bem apresentada, com recursos atraentes, é imediatamente
selecionada, pesquisada.
Diante de tantas
possibilidades de busca, a própria navegação torna-se mais sedutora do que o
necessário trabalho de interpretação. Os alunos tendem a dispersar-se diante de
tantas conexões possíveis, de endereços dentro de outros endereços, de imagens
e textos que se sucedem ininterruptamente. Tendem a acumular muitos textos,
lugares, idéias, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em
seqüência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado
dos outros, sem a devida triagem.
Isso se deve a uma
primeira etapa de deslumbramento diante de tantas possibilidades que a Internet
oferece. É mais atraente navegar, descobrir coisas novas, do que analisá-las,
compará-las, separando o que é essencial do acidental, hierarquizando idéias,
assinalando coincidências e divergências. Por outro lado, isso reforça uma
atitude consumista dos jovens diante da produção cultural audiovisual. Ver
equivale, na cabeça de muitos, a compreender, e há um certo ver superficial,
rápido, guloso, sem o devido tempo de reflexão, de aprofundamento, de
cotejamento com outras leituras. Os alunos impressionam-se primeiro com as
páginas mais bonitas, que exibem mais imagens, animações, sons. As imagens
animadas exercem um fascínio semelhante ao exercido pelas imagens do cinema, do
vídeo e da televisão. Os lugares menos atraentes visualmente costumam ser
deixados em segundo plano, o que acarreta, às vezes, perda de informações de
grande valor.
A Internet é uma
mídia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades
inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor
cria um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais
que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a
capacidade de comunicação autêntica do professor de estabelecer relações de
confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, pela competência e pela simpatia
com que atua.
O aluno desenvolve
a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. A
interação bem-sucedida aumenta a aprendizagem. Em alguns casos há uma
competição excessiva, monopólio de determinados alunos sobre o grupo. Mas, no
conjunto, a cooperação prevalece.
A Internet pode
ajudar a desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos
diferentes. A intuição, porque as informações vão
sendo descobertas por acerto e erro, por conexões “escondidas”. As conexões não
são lineares, vão “linkando-se” por
hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades
diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das
seqüências são imprevisíveis, abertas. A mesma pessoa costuma ter dificuldades
em refazer a mesma navegação duas vezes. Ajuda na adaptação a ritmos
diferentes: a Internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno
trabalhe no seu próprio ritmo, e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a
aprendizagem colaborativa.
Na Internet também
desenvolvemos formas novas de comunicação, principalmente escrita. Escrevemos
de forma mais aberta, hipertextual, conectada, multilingüística, aproximando
texto e imagem Agora começamos a incorporar sons e imagens em movimento. A
possibilidade de divulgar páginas pessoais e grupais na Internet gera uma
grande motivação, visibilidade, responsabilidade para professores e alunos.
Todos se esforçam para escrever bem, comunicar melhor suas idéias, ser bem
aceitos, para "não fazer feio". Alguns dos endereços mais
interessantes ou visitados da Internet no Brasil são feitos por adolescentes ou
jovens.
Outro resultado
comum à maior parte dos projetos na Internet confirma a riqueza de interações
que surgem, os contatos virtuais, as amizades, as trocas constantes com outros
colegas, tanto por parte de professores como de alunos. Os contatos virtuais
transformam-se, quando é possível, em presenciais. A comunicação afetiva, a
criação de amigos em diferentes países transformam-se em um grande resultado
individual e coletivo dos projetos.
Alguns problemas
no uso da Internet na educação
Há uma certa
confusão entre informação e conhecimento. Temos muitos dados, muitas informações
disponíveis. Na informação, os dados estão organizados dentro de uma lógica, de
um código, de uma estrutura determinada. Conhecer é integrar a informação no
nosso referencial, no nosso paradigma, apropriando-a, tornando-a significativa
para nós. O conhecimento não se passa, o conhecimento cria-se, constrói-se.
Alguns alunos não
aceitam facilmente essa mudança na forma de ensinar e de aprender. Estão
acostumados a receber tudo pronto do professor e esperam que ele continue
"dando aula", como sinônimo de ele falar e os alunos escutarem.
Alguns professores também criticam essa nova forma, porque parece um modo de
não dar aula, de ficar “brincando” de aula...
Há facilidade de
dispersão. Muitos alunos se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação.
Não procuram o que foi combinado, deixando-se arrastar para áreas de interesse
pessoal. É fácil perder tempo com informações pouco significativas, ficando na
periferia dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma
consistente. O conhecimento se dá no filtrar, no selecionar, no comparar, no
avaliar, no sintetizar, no contextualizar o que é mais relevante,
significativo.
Percebemos
também a impaciência de muitos alunos por mudar de um endereço para outro. Essa
impaciência leva-os a aprofundar pouco as possibilidades que há em cada página
encontrada. Os alunos, principalmente os mais jovens, "passeiam"
pelas páginas da Internet, descobrindo muitas coisas interessantes, enquanto
deixam de lado, por afobação, outras tantas, tão ou mais importantes.
Com as mesmas
tecnologias e propostas, podem-se obter resultados diferentes. Há grupos mais
ativos, outros menos, grupos de alunos mais motivados e maduros, outros menos.
Com cada grupo, é preciso procurar encontrar a proposta mais adequada, o equilíbrio
entre o presencial e o virtual específico. O mais importante é a credibilidade
do professor, sua capacidade de estabelecer laços de empatia, de afeto, de
colaboração, de incentivo, de manter o equilíbrio entre flexibilidade e
organização.
Mudanças no ensino presencial com tecnologias
Caminhamos para formas
de gestão menos centralizadas, mais flexíveis, integradas. Para estruturas mais
enxutas. Menos pessoas, trabalhando mais sinergicamente. Haverá maior
participação dos professores, alunos, pais, da comunidade na organização, no
gerenciamento, nas atividades, nos rumos
de cada instituição escolar.
Está em curso
uma reorganização física dos prédios. Salas de aula mais funcionais e em menor
quantidade. Todas elas com acesso à Internet. Os alunos começam a utilizar - em
alguns colégios e universidades - o notebook
para pesquisa, busca de novos materiais, para solução de problemas. O
professor também está mais conectado em casa e na sala de aula e com recursos
tecnológicos para exibição de materiais de apoio para motivar os alunos e
ilustrar as suas idéias. Teremos mais ambientes de pesquisa grupal e individual
em cada escola; as bibliotecas convertem-se em espaços de integração de mídias,
software e bancos de dados.
Os processos de
comunicação tendem a ser mais participativos. A relação professor-aluno mais
aberta, interativa. Haverá uma integração profunda entre a sociedade e a
escola, entre a aprendizagem e a vida. A aula não é um espaço determinado; mas
tempo e espaço contínuos de aprendizagem. Os cursos serão híbridos no estilo,
na presença, nas tecnologias, nos requisitos. Haverá muito mais flexibilidade
em todos os sentidos. Uma parte das matérias será predominantemente presencial
e outra, predominantemente virtual. O importante é aprender e não impor um
padrão único de ensinar.
Com o aumento da
velocidade e de largura de banda, ver e ouvir a distância será corriqueiro. O
professor poderá dar uma parte das aulas em sua sala, sendo visto pelos alunos
onde eles estiverem. Em uma parte da tela do computador do aluno aparecerá a
imagem do professor. ao lado um resumo do que está falando. O aluno poderá
fazer perguntas no modo chat ou sendo
visto, com autorização do professor, por este e pelos colegas. Essas aulas
ficarão gravadas e os alunos poderão acessá-las off-line, quando acharem conveniente.
Haverá uma
integração maior das tecnologias e das metodologias de trabalhar com o oral, a
escrita e o audiovisual. Não precisaremos abandonar as formas já conhecidas
pelas tecnologias telemáticas, só porque estão na moda. Integraremos as
tecnologias novas e as já conhecidas. Iremos utilizá-las como mediação
facilitadora do processo de ensinar e aprender participativamente.
Haverá uma
mobilidade constante de grupos de pesquisa, de professores participantes em
determinados momentos, professores da mesma instituição e de outras.
Quando vale a pena
encontrar-nos na sala de aula?
Podemos ensinar e
aprender com programas que incluam o melhor da educação presencial com as novas
formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale a pena encontrar-nos
fisicamente - no começo e no final de um assunto ou de um curso. Há outros em
que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual, mas conectados com
os demais colegas e professores, para intercâmbio constante tornando real o
conceito de educação permanente.
Como regra geral,
podemos encontrar-nos fisicamente no começo e no final de um novo tema, de um assunto
importante. No início, para colocar esse tema dentro de um contexto maior, para
motivar os alunos, para que percebam o que vamos pesquisar e para organizar
como vamos pesquisá-lo. Os alunos, iniciados ao novo tema e motivados, realizam
a pesquisa sob a supervisão do professor, e voltam à aula depois de um tempo
para trazer seus resultados.
É o momento final do processo,
de trabalhar em cima do que os alunos apresentaram, de complementar,
questionar, relacionar o tema com os demais.
Vale a pena
encontrar-nos no início de um processo específico de aprendizagem e no final,
na hora da troca, da contextualização. Iniciar o processo presencialmente. O
professor estimula, motiva. Coloca uma questão, um problema, uma situação real.
Os alunos pesquisam com a supervisão dele. Uma parte das aulas pode ser
substituída por acompanhamento, monitoramento de pesquisa, com o professor
dando subsídios para os alunos irem além das primeiras descobertas, ajudando-os
nas suas dúvidas. Isso pode ser feito pela Internet, por telefone ou pelo
contato pessoal com o professor.
Equilibrar o
presencial e o virtual
Se temos
dificuldades no ensino presencial, não as resolveremos com o virtual. Se nos
olhando, estando juntos, temos problemas sérios não resolvidos no processo de
ensino-aprendizagem, não será "espalhando-nos" e
"conectando-nos" que vamos solucioná-los automaticamente.
Podemos tentar a
síntese dos dois modos de comunicação: o presencial e o virtual, valorizando o
melhor de cada um deles.
Estar juntos
fisicamente é importante em determinados momentos fortes; conhecer-nos, criar
elos, confiança, afeto. Conectados, podemos realizar trocas mais rápidas,
cômodas e práticas.
Realizar
atividades que fazemos melhor no presencial: comunidades, criar grupos afins
(por algum critério específico). Definir objetivos, conteúdos, formas de
pesquisa de temas novos, de cursos novos. Traçar cenários, passar as
informações iniciais necessárias para nos situarmos diante de um novo assunto
ou questão a ser pesquisada.
A comunicação
virtual permite interações espaço-temporais mais livres, a adaptação a ritmos
diferentes dos alunos, novos contatos com pessoas semelhantes, fisicamente
distantes, maior liberdade de expressão a distância.
Por dificuldades
culturais e educacionais de abrir-nos no presencial, temos mais sucesso na
utilização de certas formas de comunicação a distância.
À medida que avançam as
tecnologias de comunicação virtual, o conceito de presencialidade também se altera. Poderemos ter professores
externos compartilhando determinadas aulas, e um professor de fora
"entrando" por videoconferência na minha aula. Haverá um intercâmbio
muito maior de professores, por meio do qual cada um colaborará em algum ponto
específico, muitas vezes a distância.
O conceito de curso, de aula, também muda. Hoje
entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Esse tempo e esse espaço
serão cada vez mais flexíveis. O professor continua "dando aula"
quando está disponível para receber e responder a mensagens dos alunos, quando
cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos,
páginas da Internet, fora do horário específico da sua aula. Há uma
possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos
tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto alunos estão
motivados e entendem a aula como pesquisa e intercâmbio, com os alunos sendo
supervisionados, animados e incentivados pelo professor.
As crianças terão
muito mais contato físico, pela necessidade de socialização, de interação. Mas
nos cursos médios e superiores, o virtual superará o presencial. Haverá uma
grande reorganização das escolas. Edifícios menores. Menos salas de aula e mais
salas-ambiente, salas de pesquisa, de encontro, interconectadas. A casa - o
escritório – será o lugar de aprendizagem.
Poderemos também
oferecer cursos predominantemente presenciais e outros predominantemente
virtuais. Isso dependerá do tipo de matéria, das necessidades concretas de
cobrir falta de profissionais em áreas específicas ou de aproveitar melhor
especialistas de outras instituições que seria difícil contratar.
Caminhamos
rapidamente para processos de ensino-aprendizagem totalmente audiovisuais e
interativos. Nos veremos, ouviremos, escreveremos simultaneamente, com
facilidade, a um custo baixo, às vezes em grupos grandes, outras vezes em
grupos pequenos ou de dois em dois.
Tecnologias
na educação a distância
Estamos numa fase
de transição na educação a distância. Muitas organizações estão se limitando a
transpor para o virtual adaptações do ensino presencial (aula multiplicada ou
disponibilizada). Há um predomínio de interação virtual fria (formulários,
rotinas, provas, e-mail) alguma interação on-line. Começamos a passar dos modelos predominantemente
individuais para os grupais. A educação a distância mudará radicalmente de
concepção, de individualista para mais grupal, de utilização predominantemente
isolada para utilização participativa, em grupos. Das mídias unidirecionais,
como o jornal, a televisão e o rádio, caminhamos para mídias mais interativas.
Da comunicação off-line evoluímos
para um mix de comunicação off e on-line (em tempo real).
Educação a
distância não é um fast-food onde o
aluno vai e se serve de algo pronto. Educação a distância é ajudar os
participantes a equilibrar as necessidades e habilidades pessoais com a
participação em grupos - presenciais e virtuais - por meio da qual avançamos
rapidamente, trocamos experiências, dúvidas e resultados. Iremos combinando
daqui em diante cursos presenciais com virtuais. Uma parte dos cursos
presenciais será feita virtualmente. Uma parte dos cursos a distancia será
feita de forma presencial ou virtual-presencial, vendo-nos e ouvindo-nos.
Haverá uma combinação de períodos de pesquisa mais individual com outros de
pesquisa e comunicação conjunta. Poderemos fazer alguns cursos sozinhos com a
orientação virtual de um tutor e em outros será importante compartilhar vivências,
experiências, idéias.
A Internet está
caminhando para ser audiovisual, para transmissão em tempo real de som e imagem
(tecnologias streaming). Cada vez
será mais fácil fazer integrações mais profundas entre TV e WEB. Enquanto assiste a determinado programa, o
telespectador começa a poder acessar simultaneamente as informações que achar
interessantes sobre o programa, acessando o site da programadora na Internet ou outros bancos de dados.
As possibilidades
educacionais que se abrem são fantásticas. Com o alargamento da banda de
transmissão, como acontece na TV a cabo, torna-se mais fácil podermos nos ver e
nos ouvir a distância. Muitos cursos poderão ser realizados a distância com som
e imagem, principalmente cursos de atualização, extensão. As possibilidades de
interação serão diretamente proporcionais ao número de pessoas envolvidas.
Teremos aulas a
distância com possibilidade de interação on-line e aulas presenciais com interação a distância.
Algumas
organizações e alguns cursos oferecerão tecnologias avançadas dentro de uma
visão conservadora (lucro, multiplicação).
O ensino será um mix de tecnologias com momentos presenciais, outros
de ensino on-line,
adaptação ao ritmo pessoal,
mais interação grupal, avaliação mais personalizada (com níveis diferenciados
de visão pedagógica). Outras organizações oferecerão tecnologias de ponta com
visão pedagógica avançada (cursos de elite, subsidiados).
O processo é mais
lento do que se espera. Iremos mudando aos poucos, tanto no presencial como na
educação a distância. Há uma grande desigualdade econômica, de acesso, de
maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão prontos para a mudança,
muitos outros não. É difícil mudar padrões adquiridos (gerenciais, atitudinais)
das organizações, dos governos, dos profissionais e da sociedade.
Alguns caminhos para integrar as tecnologias
num ensino inovador
Na sociedade da
informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar;
reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o
grupal e o social.
É importante conectar sempre
o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis:
pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações,
simulações), pela multimídia, pela interação on-line e off-line.
Partir de onde o aluno está. Ajudá-lo a ir do
concreto ao abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o
intelectual. Professores, diretores e administradores terão que estar
permanentemente integrados ao processo de atualização por meio de cursos
virtuais, de grupos de discussão significativos, participando de projetos
colaborativos dentro e fora das instituições em que trabalham.
Tanto nos cursos
convencionais como nos cursos a distância teremos que aprender a lidar com a informação
e o conhecimento de formas novas, pesquisando muito e comunicando-nos
constantemente. Isso nos fará avançar mais rapidamente na compreensão integral
dos assuntos específicos, integrando-os num contexto pessoal, emocional e
intelectual mais rico e transformador. Assim poderemos aprender a mudar nossas
idéias, nossos sentimentos e nossos valores onde isso se fizer necessário.
Ensinar não é só
falar, mas se comunicar com credibilidade. É falar de algo que conhecemos intelectual e
vivencialmente e que, pela interação autêntica, contribua para que os outros e
nós mesmos avancemos no grau de compreensão do que existe.
Ensinaremos melhor
se mantivermos uma atitude inquieta, humilde e confiante para com a vida, com
os outros e conosco, tentando sempre aprender, comunicar e praticar o que
percebemos até onde nos for possível em cada momento. Isso nos dará muita
credibilidade, uma das condições fundamentais para que o ensino aconteça. Se
inspirarmos credibilidade, poderemos ensinar de forma mais fácil e abrangente.
A credibilidade depende de continuar mantendo a atitude honesta e autêntica de
investigação e de comunicação, algo não muito fácil numa sociedade ansiosa por
novidades e onde há formas de comunicação dominadas pelo marketing, mais do que
pela autenticidade.
Educadores
entusiasmados atraem, contagiam, estimulam, tornam-se próximos da maior parte
dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, respeitamo-los.
As primeiras
reações que o bom professor/educador desperta no aluno são confiança,
credibilidade, admiração e entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de
ensino-aprendizagem. É importante sermos professores/educadores com um
amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o
processo de organização da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas,
que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão,
o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e
de comunicação, que desenvolvam formas de comunicação autênticas, abertas,
confiantes.
Na educação,
escolar ou organizacional, precisamos de pessoas que sejam competentes em
determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos,
mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial,
facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir,
de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança
interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, por meio dele,
ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de
práticas.
Necessitamos de
muitas pessoas livres nas empresas e nas escolas, que modifiquem as estruturas
arcaicas e autoritárias do ensino – escolar e gerencial. Só pessoas livres,
autônomas - ou em processo de libertação - podem educar para a liberdade, podem
educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas livres
merecem o diploma de educador.
Faremos com as
tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco, com os outros, com a
vida. Se somos pessoas abertas, iremos utilizá-las para nos comunicarmos mais,
para interagirmos melhor. Se somos pessoas fechadas, desconfiadas, utilizaremos
as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias,
utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar o nosso poder. O
poder de interação não está fundamentalmente nas tecnologias mas nas nossas
mentes.
Ensinar com as
novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais
do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário,
conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet
é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode nos ajudar a
rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de
aprender.
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1
Isso aconteceu na utilização pela televisão do
assassinato da atriz Daniella Perez.
2. Ver cap. 5 de Moran 1998, pp. 79-88.